quarta-feira, 14 de março de 2012

A Wikipédia matou a Enciclopédia?

244 anos depois, a Enciclopédia Britânica anunciou o fim da sua edição em papel. 244 anos depois, a Enciclopédia Britânica anunciou o fim da sua edição em papel. Imagem: SAPO
Acabaram-se os vendedores porta a porta. Acabaram-se os volumes em papel rigorosamente escolhidos da Enciclopédia Britânica. A notícia do fim da enciclopédia mais famosa do mundo foi certamente recebida com nostalgia em milhares de lares norte-americanos.
A decisão foi anunciada como um “ritual de passagem à nova era”, disse ontem Jorge Cauz, o presidente da empresa Encyclopaedia Britannica Inc. A última edição impressa é de 2010, tem 32 volumes, pesa quase 130 quilos e inclui novas entradas sobre o aquecimento global e sobre o Projeto do Genoma Humano.
Mas, o fim da Britânica remete para uma outra enciclopédia: a Wikipedia. Com tantas entradas que corresponderiam a milhares e milhares de volumes impressos, podemos culpá-la pelo fim da Enciclopédia Britânica?
Eduardo Pinheiro, da Wikimedia Portugal, crê que sim mas não culpa apenas a enciclopédia online. "Já ninguém espera pela Britânica. Na nossa sociedade os hábitos de consulta de fontes fiáveis e de obras de referência alteraram-se", conta ao SAPO Notícias.
O editor da Wikipédia recebeu a notícia do fim da Britânica com "tristeza". "Não é um momento particularmente alegre pois é uma enciclopédia histórica, que serviu de referência de indubitável qualidade a gerações várias", descreveu por e-mail.
A Britânica surgiu em 1768 na Escócia, seguindo depois para os EUA no século XX. Escrita em inglês, tornou-se um objeto de luxo com um preço aproximado de 1400 dólares. Era frequentemente comprada por embaixadas, bibliotecas e instituições de pesquisa, mas também vendida porta a porta. Apenas 8 mil enciclopédias da edição de 2010 foram vendidas. As restantes 4 mil esperam por compradores num armazém da empresa.
Estar online não é suficiente
"A versão de 1911, que está em domínio público, é citada como fonte em mais de 12 mil artigos da Wikipédia, só na versão em inglês", acrescenta Eduardo Pinheiro.
A Enciclopédia de referência vai continuar, no entanto, a apostar nos conteúdos online. Jorge Cauz afirmava ontem que a vantagem competitiva da Britânica face à Wikipedia reside no prestígio das fontes, rigor na escrita e na confiança associada à marca.
Mas Eduardo Pinheiro considera que, hoje, estar no digital por si só não chega. "O facto de se manter um serviço pago e com especialistas em cada área, levou a que a velocidade de atualização fosse fortemente prejudicada". E remete para um exemplo prático: "não encontra por exemplo nada sobre o naufrágio do Costa Concordia... e já lá vão dois meses", reflete.
A questão paira no ar: o que conta mais hoje em dia, o rigor ou a rapidez?

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